Faça do controle leiteiro um hábito na sua fazenda

O controle leiteiro (Figura 1) é a ferramenta mais importante para tomada de decisões relacionadas ao manejo nutricional e melhoramento genético de bovinos de leite. Os registros de produção e de qualidade do leite são fundamentais para determinação das exigências nutricionais das vacas e, consequentemente, para a formulação de dietas. Esses dados também são importantes para avaliação genética dos animais (touros e vacas). A seleção, ou o descarte, de um animal sem o conhecimento do seu valor genético (ou, pelo menos da sua produção) é um tiro no escuro. Você pode descartar animais que estão entre os melhores do seu rebanho por falta de informação.

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Figura 1. O controle leiteiro é o processo de mensuração da produção de leite de uma vaca em um período de 24 horas. Além da produção total de leite, é possível avaliar sua composição (p.ex.: percentuais de proteína, de gordura, de lactose, de sólidos totais, contagem de células somáticas). Esses dados são fundamentais para avaliação do potencial de produção dos animais e para a tomada de decisões.

Não é raro encontrar donos de vacas que ficam falando de seleção, de genômica, de teste de progênie sem, sequer, fazer controle leiteiro dos animais do seu próprio rebanho. Isso precisa mudar!

A disseminação da prática do controle leiteiro nas fazendas brasileiras terá impacto favorável em toda a cadeia produtiva. Em primeiro lugar, o benefício será dentro da fazenda. Com os dados disponíveis, os produtores poderão organizar melhor os lotes de vacas de acordo com a produção. Isso vai facilitar a formulação das dietas, reduzir o desperdício de ração com vacas de baixa produção e aumentar a eficiência por meio da alimentação adequada daquelas vacas que produzem mais leite. Se os dados da produção leiteira forem utilizados para descarte de animais, o produtor poderá escolher para si as melhores vacas e, adicionalmente, terá condições de conhecer melhor as vacas que serão vendidas. Com isso, o preço dos animais de venda poderá ser definido de forma mais justa para os dois lados, já que vai ser possível definir o valor do animal conforme sua produção.

Em segundo lugar, o aumento da prática do controle leiteiro nas fazendas e posterior análise desses dados –  por programas de melhoramento genético ou por instituições envolvidas na cadeia produtiva, vai dar origem a informações importantes. Os dados do controle leiteiro são a matéria prima mais preciosa para avaliação genética. Quanto mais animais com controle leiteiro, maior será o número de vacas e touros avaliados e maior será a acurácia das avaliações. Naturalmente, os ganhos genéticos poderão ser maiores e os benefícios retornarão para as próprias fazendas que executaram o controle leiteiro. Os dados de controle também poderão ser analisados por instituições de pesquisa e por outras envolvidas com o setor. As instituições de pesquisa podem gerar novos conhecimentos relacionados com melhoramento genético, nutrição, saúde e manejo de bovinos leiteiros, e podem contribuir para a formação e qualificação de técnicos para atuação na área. A análise dos dados obtidos nas fazendas também pode gerar informações úteis para o planejamento, negociação de contratos, e definição de políticas para fomentar o setor.

Todas as vacas que fazem parte do mesmo lote de manejo devem ser controladas. O controle seletivo – aquele no qual as vacas a serem avaliadas são escolhidas é uma das piores estratégias que pode ser utilizada em uma fazenda. Apenas para demonstrar esse fato, vamos considerar um lote de manejo com dez vacas, cujas produções diárias são apresentadas na Figura 2.

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Figura 2. Dados de produção de leite de dez vacas do mesmo lote de manejo. A realização do controle leiteiro não seletivo é a maneira correta para obter dados zootécnicos para planejamento das atividades pecuárias.

Considerando todas as observações (controle não seletivo, Figura 2), a média do lote é 15 kg/dia e é possível observar cinco vacas com produção acima da média (1, 2, 7, 9 e 10) e outras cinco vacas com produção abaixo da média (3, 4, 5, 6 e 8). Se o criador tivesse feito controle leiteiro seletivo apenas das sete melhores vacas (1, 2, 4, 5, 7, 9 e 10), a média do lote seria 17,6 kg/dia e, agora, o lote teria apenas três vacas (1, 2 e 10) acima da média (Figura 3). Com o controle seletivo, todas as vacas do lote – inclusive as melhores – são penalizadas. Essa estratégia diminui a variabilidade e penaliza todas as vacas que foram escolhidas para participar do controle.

ControleSeletivo

Figura 3. Desvios da produção individual em relação as médias da produção de leite sem controle seletivo ou com controle seletivo. Quando se realiza controle leiteiro seletivo a média do lote é superestimada e os desvios (produção de cada animal – média do lote) são influenciados. Sob controle seletivo é possível observar: 1) as diferenças entre as vacas ficam menores; 2) as vacas 7, 9 e 10, cujas produções estavam acima da média, agora estão abaixo da média; 3) até a superioridade da vaca 1 em relação à média do lote é reduzida. As informações provenientes de rebanhos com controle leiteiro seletivo não são confiáveis, pois elas não refletem a realidade do rebanho. Refletem apenas a realidade daquelas vacas que foram escolhidas para controle.

Infelizmente, alguns criadores praticam o controle leiteiro seletivo. Eles o fazem para reduzir o custo com as mensurações ou para esconder animais de baixa produção. Independente da motivação, os rebanhos desses criadores são os mais penalizados em uma avaliação genética. Felizmente, graças aos dados daqueles criadores que não fazem controle seletivo, o modelo estatístico utilizado na avaliação genética (modelo animal) utiliza ponderações baseadas nos dados de indivíduos aparentados e que foram avaliados em outros rebanhos e isso reduz o viés (pelo menos para aqueles animais com muitos parentes avaliados em outros rebanhos) na avaliação genética. Fazer o controle não seletivo beneficia principalmente os animais do próprio rebanho.

Só existe uma coisa pior que o controle leiteiro seletivo. É o controle leiteiro seletivo associado ao tratamento preferencial não informado. Qualquer estratégia utilizada para aumentar a produção de leite de uma vaca e não declarada pelo criador no momento do controle pode ser considerada como tratamento preferencial. Pode ser uma dieta diferenciada, tratamento hormonal ou maior número de ordenhas. O efeito do tratamento preferencial pode variar de uma estratégia para outra, mas exemplificar seu impacto com um incremento em 15% na produção de uma vaca não é uma situação irreal. Considere que além do controle seletivo (vacas 1, 2, 4, 5, 7, 9 e 10), um criador optou por submeter uma das vacas (vaca 2) a um tratamento preferencial e sua produção foi de 24 kg/dia (Figura 4).

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Figura 4. Dados de produção de leite de vacas em um lote com controle seletivo e tratamento preferencial não informado da vaca 2. Ao realizar o controle leiteiro seletivo e tratamento preferencial, a média do lote passou para 18 kg/dia (média viesada) e todas as outras vacas (1, 4, 5, 7, 9 e 10) foram penalizadas.

Ao agrupar vacas que receberam condições de criação diferentes (tratamento preferencial) em um mesmo lote, a estimativa da média passa a não representar mais as condições de criação daqueles animais e todas as comparações em relação à média também ficam prejudicadas. Além disso, todas as comparações envolvendo vacas com tratamentos diferentes também ficam injustas. Note, no exemplo da Figura 4, que a melhor vaca do lote não é mais a vaca 1, e sim a vaca 2. As produções observadas dessas vacas não deveriam ser comparadas sem a realização dos ajustes pertinentes, mas não é possível realizar esses ajustes porque o tratamento preferencial da vaca 2 não foi informado. Realizar tratamento preferencial sem informá-lo no momento do controle é um grande desserviço prestado por aquele que omite tal informação.

O controle leiteiro pode ser realizado por técnicos credenciados ou por funcionários da própria fazenda. O controle leiteiro oficial, realizado por técnicos credenciados por associações de criadores e respeitando-se as normas oficiais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é uma boa alternativa para mensuração da produção dos animais. Dessa forma é possível reduzir erros de mensuração no dia do controle, mas não é possível reduzir o risco dos tratamentos preferenciais realizados em dias anteriores e que deixam efeitos residuais sobre a produção de leite. Em muitos casos, o produtor paga os custos do controle leiteiro oficial (taxas da associação e despesas com o controlador), e isso inibe a disseminação desse tipo de controle. Os resultados também podem ser interpretados de maneira inadequada quando utilizados para comparação de animais de lotes diferentes (sejam esses lotes de uma mesma fazenda ou de fazendas diferentes) sem as devidas considerações (Figura 5).

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Figura 5. Dados de produção de leite de vacas em dois lotes. Cada barra representa a produção de uma vaca. As produções das vacas do lote 1 não podem ser comparadas diretamente com as produções das vacas do lote 2 porque as condições de criação variam de um lote para o outro. Duas vacas com a mesma produção (vaca 3 do lote 1 e vaca 2 do lote 2) podem ter potencias genéticos muito diferentes, pois apresentaram a mesma produção sob condições de criação distintas. Por outro lado, vacas com produções diferentes não possuem, necessariamente, potenciais genéticos diferentes. O valor genético é o indicador mais adequado para comparar animais que não foram criados sob as mesmas condições.

No controle leiteiro de fazenda, um funcionário da própria fazenda é treinado e responsável pela mensuração da produção de leite de acordo com as normas definidas. Esse tipo de controle é mais comum em fazendas comerciais, que utilizam esses dados para tomar decisões de manejo. Atualmente, com a disponibilidade de ordenhadeiras mecânicas e sistemas automatizados, há fazendas que possuem dados de produção diária e individualizado. É mais barato executar o controle leiteiro de fazenda. Infelizmente, algumas associações de criadores não aceitam os dados medidos por funcionários da fazenda para realizar a avaliação genética dos animais. Mas essa realidade pode mudar na medida se houver um esforço conjunto para capacitar os funcionários das fazendas para realizar as mensurações de maneira padronizada e para que as associações recebam esses dados.

O controle leiteiro, independente de ser oficial ou de fazenda, deve respeitar as normas definidas e  ser conduzido honestamente. Como já foi exposto, controle leiteiro seletivo e os tratamentos preferenciais não informados prejudicam, em primeiro lugar, aqueles que os praticam.

Prepare a fazenda, e não as vacas, para o controle leiteiro. É importante que o controle leiteiro faça parte da rotina da fazenda. Sua execução não pode ser vista como um empecilho para as outras atividades. É necessário ter um funcionário que reconheça a importância desse procedimento e que saiba executar todas as ações corretamente. Uma balança, ou medidores nos sistemas de ordenha, são necessários para aferir a produção. Uma planilha de papel simples e eficiente para anotação dos dados referentes à identificação do animal, data do controle, lote de manejo, número de ordenhas, condição do animal, produção de leite (em cada ordenha e produção total) e observações gerais é fundamental para que o controle seja executado e registrado sem dificuldades. Todos dados obtidos precisam ser transferidos para planilhas eletrônicas, ou sistemas de acompanhamento de rebanho, para que sejam analisados e gerem informações úteis para a fazenda. O correto arquivamento dos dados do controle leiteiro vai gerar uma base de dados zootécnicos históricos do rebanho, capaz de fornecer informações muito valiosas.

O dia de controle leiteiro deve ser um dia normal na fazenda. Nada deve mudar no manejo  das vacas, pois o controle serve para avaliar a produção sob as condições normais de produção. A execução do controle leiteiro não deve ser condicionada à geração de um relatório individual de lactação, que ser não for analisado e interpretado corretamente não serve para absolutamente nada. Ele é muito mais importante do que isso! A aferição da produção leiteira é útil como ferramenta de diagnóstico, de avaliação de resultados, de definição de metas e muito mais. Portanto, faça do controle leiteiro um hábito saudável na sua fazenda. Você só tem a ganhar com ele.

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Entendendo as acurácias dos valores genéticos e genômicos nas avaliações atuais

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Foto: Preta Ribeiro.

Tatersal Rubico Carvalho, no Parque de Exposições Fernando Costa em Uberaba, cheio no dia 19 de agosto de 2019, para discussão do tema “Entendendo as acurácias dos valores genéticos e genômicos nas avaliações atuais”. A apresentação fez parte da programação técnica da 12ª edição da Expogenética.

Os valores genéticos são o somatório dos efeitos médios de substituição dos alelos que os animais possuem. Eles são preditos a partir da análise dos dados fenotípicos, genealógicos e de marcadores genéticos conhecidos – num processo chamado de avaliação genética. E existe uma estatística que representa a confiança que pode ser atribuída a estas predições – a acurácia. A acurácia pode ser utilizada como um indicativo de risco de mudança do valor genético predito de um animal, se mais informações forem adicionadas ao processo de avaliação genética.

Quanto maior a acurácia, menor o risco de mudança no valor genético predito. Quanto menor a acurácia, maior o risco de mudança (para pior ou para melhor) no valor genético predito. O conhecimento das implicações dos diferentes valores de acurácia podem ser utilizados por técnicos e selecionadores para controlar os riscos envolvidos com a utilização de animais de alto potencial genético – mas avaliados com baixa acurácia.

Além da palestra, os presentes participaram de uma rodada de discussões com representantes de diversos programas de melhoramento genético.

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Foto: Preta Ribeiro.

O material apresentado durante a palestra pode ser consultado neste link.

Se tiver interesse, leia mais sobre a utilização de touros jovens com boas avaliações genéticas, mas de acurácias baixas clicando aqui.

Você apostaria em touros jovens, com boas avaliações genéticas, mas de acurácias baixas?

O valor genético é o somatório dos efeitos dos alelos que um indivíduo possui, e que influenciam uma característica de interesse. Os valores genéticos podem ser preditos a partir de análises estatísticas (avaliações genéticas) que combinam os dados de fenótipo, de parentesco e de marcadores moleculares. Em geral, os resultados das avaliações genéticas são apresentados na forma de Diferenças Esperadas na Progênie (DEP). A DEP é a metade do valor genético.

Mas os valores genéticos verdadeiros dos candidatos à seleção não são conhecidos e o melhorista precisa obter predições (as melhores possíveis) desses valores para classificar e selecionar os animais. Além do valor predito, pode haver interesse em obter estatísticas relacionadas com a qualidade da predição. Uma dessas estatísticas é a acurácia. Conceitualmente, a acurácia é a correlação entre o valor genético verdadeiro (que é desconhecido) e o valor genético predito (obtido por meio da avaliação genética). Como o valor genético verdadeiro não é conhecido, só é possível obter estimativas da acurácia por meio de diferentes estratégias estatísticas e computacionais (que não serão tratadas neste texto).

A acurácia de um valor genético (ou de uma DEP) depende da quantidade de dados considerados na sua predição, da estrutura dos dados e da herdabilidade da característica. Os animais podem ser avaliados a partir dos dados de seus ancestrais, de parentes colaterais, de dados próprios, de dados de suas progênies, e de qualquer combinação desses tipos. Em geral, quanto maior a quantidade de dados (especialmente de progênies), maior a acurácia (Figura 1).

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Figura 1. Distribuições das acurácias dos valores genéticos preditos para peso aos 205 dias de idade (herdabilidade = 0,22) em bovinos Nelore. As acurácias são maiores para os touros, uma vez que existe maior quantidade de dados para avaliação dessa categoria. Por outro lado, a maior dispersão das acurácias também acontece na categoria de touros, uma vez que o número de progênies pode variar muito de um touro para outro.

Dois touros, com a mesma quantidade de filhos, podem ter acurácias diferentes porque os filhos de um deles podem estar mais bem distribuídos em vários rebanhos, do que os filhos de outro, que podem estar mal distribuídos em poucos rebanhos. Provavelmente, a acurácia será maior para os valores genéticos preditos do primeiro touro. Ainda, é possível ter a mesma quantidade de dados para duas características diferentes. Neste cenário, as acurácias associadas com os valores genéticos da característica de maior herdabilidade serão maiores que as acurácias dos valores genéticos daquela característica de menor herdabilidade.

Alguns usuários das avaliações genéticas e compradores de material genético (touros ou sêmen, por exemplo) preocupam-se com os valores das acurácias. Tal preocupação decorre do fato de que animais jovens, que ainda não possuem progênie, têm seus valores genéticos preditos com baixa acurácia. Na análise dos dados utilizados para elaboração da Figura 1, verificou-se que a média da acurácia dos valores genéticos preditos para peso aos 205 dias de idade (herdabilidade = 0,22) dos touros (n = 179) foi de 0,47, enquanto a acurácia para os produtos (n = 16.429, animais sem progênie) foi de 0,20. A acurácia também é interpretada como uma medida de risco, associada com mudanças nos valores genéticos preditos ao longo do tempo. Essa mudança nos valores genéticos pode ser avaliada comparando-se os valores genéticos preditos considerando-se apenas os dados dos candidatos à seleção (situação 1) com os valores genéticos preditos considerando-se os dados dos próprios animais e, também os dados de suas progênies (situação 2). Essa comparação pode ser visualizada na Figura 2.

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Figura 2. Médias dos valores genéticos preditos para peso aos 205 dias de idade em touros Nelore. Os valores genéticos foram preditos considerando-se apenas os dados fenotípicos obtidos até a safra de nascimento (e deram origem aos resultados apresentados com as barras mais claras – Nascimento) ou considerando-se os dados fenotípicos obtidos até o nascimento da primeira progênie (três anos após a safra de nascimento do touro. Resultados apresentados com as barras mais escuras – Progênie). As barras representam as médias dos valores genéticos de 5, 5, 7, 10, 6, 6, 6, 7, 9 e 8 touros, que nasceram nas safras 2005 a 2014, e tiveram suas primeiras progênies nascidas nas safras 2008 e 2017, respectivamente.

É possível notar, a despeito de uma mudança maior nas médias dos valores genéticos dos touros da safra 2006, que as oscilações das médias dos valores genéticos dos grupos de touros (comparando-se uma barra clara com uma barra escura, dentro da mesma safra de nascimento) são modestas e não representam risco significativo da utilização de touros jovens, com boas avaliações genéticas, mas de acurácias baixas. Vale ressaltar que os resultados apresentados se referem as médias dos valores genéticos de um grupo de touros utilizados em uma safra. Mas o que acontece com os valores genéticos de cada touro? Veja a Figura 3.

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Figura 3. Valores genéticos preditos para peso aos 205 dias de idade de touros Nelore, nascidos na safra 2008, com as primeiras progênies na safra 2011. As barras mais claras representam os valores genéticos preditos apenas com base nos dados obtidos até a safra 2008 (Nascimento). As barras mais escuras representam os valores genéticos preditos com base nos dados obtidos até a safra 2011 – quando houve o nascimento das primeiras progênies de cada touro (Progênie).

É possível perceber que o valor genético predito de um touro pode mudar conforme novos dados (das progênies, principalmente) são incorporados no processo de avaliação genética. Não é possível prever o sentido dessa mudança, mas é possível reduzir sua magnitude e o risco da utilização de touros jovens.

A definição correta de procedimentos de mensuração (idade de avaliação, pesagem, mensuração de perímetro escrotal, treinamento para atribuição de escores visuais, utilização de equipamentos calibrados adequadamente) e a correta formação e identificação de grupos de manejo, onde os animais receberão condições ambientais semelhantes, são elementos fundamentais para minimizar mudanças nas predições dos valores genéticos.

Adicionalmente, utilizar grupos de touros jovens – ao invés de um único touro jovem – é uma estratégia que reduz o risco porque as oscilações individuais em sentidos diferentes (veja touros 2 e 3, da Figura 3) podem se neutralizar e não provocar qualquer mudança significativa nas médias dos valores genéticos preditos de um grupo de touros jovens (Figura 2, safra 2008).

A incorporação de dados de progênie no processo de avaliação genética contribui para o aumento da acurácia das predições (Figura 4).

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Figura 4. Médias das acurácias associadas aos valores genéticos preditos para peso aos 205 dias de idade de touros Nelore. As acurácias foram obtidas considerando-se apenas os dados fenotípicos obtidos até a safra de nascimento (e deram origem aos resultados apresentados com as barras mais claras – Nascimento) ou considerando-se os dados fenotípicos obtidos até o nascimento da primeira progênie (três anos após a safra de nascimento do touro. Resultados apresentados com as barras mais escuras – Progênie). Vide Figura 2 para mais informações a respeito do número de touros.

Contudo, esperar muito tempo para utilizar um touro apenas quando seus valores genéticos estiverem associados com altas acurácias representa um risco para a evolução de um programa de melhoramento genético por dois motivos principais: 1) touros de acurácias muito elevadas possuem muitos filhos, geralmente são touros que já foram usados em quatro ou mais estações de reprodução, e contribuem para aumentar o intervalo de gerações – o que reduz o ganho genético anual; 2) se um touro já produziu muitos filhos, mas nenhum filho é superior a ele, é preciso reavaliar as estratégias do programa de melhoramento genético uma vez que espera-se que as médias das gerações mais avançadas sejam melhores que as médias das gerações mais antigas.

A utilização de touros jovens, de potencial genético superior, sempre será uma estratégia favorável para o melhoramento genético dos rebanhos. Se, por um lado, os valores genéticos desses animais jovens são preditos com baixa acurácia, um processo de seleção bem conduzido irá garantir que as novas gerações sejam sempre melhores que as gerações anteriores e que os riscos associados com a utilização de touros jovens sejam contornados pela expectativa de superioridade genética desses animais.

 

Aproveite para discutir mais sobre esse tema durante a 12a Expogenética, em Uberaba. No dia 19 de Agosto de 2019, será realizada uma mesa redonda sobre o tema “Entendendo a acurácia dos valores genéticos e genômicos nas avaliações atuais”. Clique aqui e confira a programação completa do evento.

Expogenetica2019

Agradecimento

Os resultados apresentados foram obtidos por meio de análises dos dados de bovinos Nelore, Linhagem Lemgruber, gentilmente cedidos pela Fazenda Mundo Novo, Uberaba – MG. O autor registra seu agradecimento ao Sr. Eduardo Penteado Cardoso e a todos os funcionários da Fazenda Mundo Novo pela disponibilização dos dados.