Se você está envolvido com a pecuária, possivelmente vai se lembrar de rebanhos e criadores de gado puro que dominaram o mercado de genética no passado, mas que não fazem mais parte do noticiário atual. Vou evitar dar nomes aos bois, mas certamente temos exemplos na bovinocultura de corte e na de leite. Por quê eles perderam relevância?
A resposta é multifatorial e complexa. E sem a pretensão de apresentar uma resposta universal ou até mesmo de esgotar a discussão, seguem alguns pontos de reflexão.
A falta de sucessão familiar pode resultar na divisão ou venda do rebanho. Nem sempre é possível manter taxas de ganhos genéticos competitivas e lucratividade atrativa com redução (divisão) de um rebanho. Em alguns casos, todos os animais são vendidos e o material genético se espalha e se dilui no meio de outros rebanhos. Planos sucessórios bem definidos e conduzidos, sujeitos as aptidões e interesses dos sucessores, podem ajudar a contornar essa questão.
Tem investidor que entra no mercado da genética rapidamente, faz boas aquisições, consegue realizar bons negócios no início, mas têm dificuldades para se manter por muito tempo em evidência. Melhoramento genético se faz no dia a dia do campo, no chão do curral e com apoio técnico adequado. O marketing também é importante, mas sozinho ele não é capaz de garantir a perenidade de um negócio de genética.
O mercado de genética é tão dinâmico quanto o mercado de qualquer outro produto. As cadeias produtivas mudam e as demandas dos consumidores de genética também mudam, e continuarão a mudar com o passar do tempo. Aqueles criadores que ficam presos aos critérios e métodos ultrapassados não atendem mais às demandas dos clientes e serão engolidos pelo mercado. Mudar para atender às novas demandas não significa abandonar todos os critérios e métodos de melhoramento utilizados no passado, mas sim conservar e aprimorar aqueles que permanecem efetivos e implementar novas técnicas que tornam o processo de melhoramento genético mais eficaz e lucrativo.
Um programa de melhoramento genético é tão duradouro quanto for a extensão de sua visão estratégica. Um programa com visão estratégica de longo prazo é perene. Um programa com visão de curto alcance não vai conhecer o futuro. Os efeitos das decisões em melhoramento genético não são imediatos. Portanto, o selecionador precisa ser um conhecedor da cadeia produtiva, precisa se antecipar às mudanças e deve estar na vanguarda do seu negócio. Só assim ele vai ter a genética que o mercado precisa na hora certa.
Um dos primeiros e mais importantes livros de melhoramento publicados no mundo chama-se “Animal breeding plans”, de 1937, do professor Jay Lush (Universidade de Iowa, Estados Unidos). Numa tradução livre, seu título seria “Planos de melhoramento animal”. Muitos programas de melhoramento genético falham por falta de plano. Um plano de melhoramento é algo bem complexo, deve ser construído sobre bases sólidas, de maneira adequada, com muito estudo, conhecimento, discussões e com muitas mãos. Na prática, se bem elaborado, o plano de um programa de melhoramento genético é um roteiro que pode ser entendido e executado por qualquer equipe qualificada.
A despeito dos fatores que perturbam a sustentabilidade de um programa de melhoramento genético, existem muitos rebanhos e selecionadores que enfrentam os obstáculos e que contribuem para a melhoria genética do rebanho nacional há gerações. Eles não hesitam em aprender com as próprias experiências, e com as experiências alheias, não tem medo de mudanças, não vivem de suas conquistas anteriores, e não se furtam de suas responsabilidades. Estes sempre serão protagonistas nas cadeias produtivas e continuarão ajudando os produtores em suas nobres tarefas de produzir alimentos para a humanidade.